Depois do fenômeno Jorge Jesus assolar o futebol brasileiro, a nova sensação é outro português: Abel Ferreira. Em contrapartida, temos treinadores já pressionados por maus resultados. Afinal, queremos estabilidade e trabalhos contínuos, ou pequenas amostras já nos bastam?
FETICHE PELOS TÉCNICOS ESTRANGEIROS
A crônica esportiva, em geral, tem muita influência sobre a longevidade de trabalhos dentro do futebol. Embora jornalistas gritem aos quatro cantos que o futebol brasileiro precisa de organização e continuidade, a realidade mostra que a incoerência destes, influencia diretamente torcida, diretorias e consequentemente, a permanência ou saída de treinadores.
Abel Ferreira é um grande exemplo para reflexão. O treinador palmeirense vem fazendo um grande trabalho, chegando a duas finais de competição, campeão da Libertadores( Palmeiras Bicampeão da Copa Libertadores), e ainda muito forte na briga pelo título brasileiro.
No entanto, seu aproveitamento no Brasileirão Série A, superior a 75% em pouco mais de 10 jogos, é exaltado e tido como exemplo, mesmo comparado a treinadores que passaram as 30 rodadas e um calendário exaustivo desde o início de 2020.
A campanha é espetacular, tal como foi a de Jorge Jesus (em uma temporada completa, é verdade), e isso causa uma emoção na crítica esportiva. O treinador depois de ser campeão da Libertadores já se tornou a nova referência para o futebol brasileiro, isso é um fato.
Jesus foi assim, em apenas uma temporada. Não teve continuidade, não enfrentou oscilações, pressão de torcida, elenco em desequilíbrio (como parece estar agora o Flamengo), e para sempre vai ser colocado como o exemplo a ser seguido. Esperto foi ele, que saiu enquanto estava ganhando.
E Eduardo Coudet? O ex-treinador do Internacional, abandonou o time na liderança do campeonato, no momento que o Inter começava a enfrentar uma queda de rendimento. Assumiu o Celta, arrancou com bons resultados, e a imprensa brasileira delira a cada semana.
A verdade é que não queremos continuidade, trabalhos longos e sólidos. Este tipo de situação vai ter altos e baixos, e escancara a incoerência dos brasileiros. O resultado a curto prazo é suficiente para se exaltar treinadores e quaisquer profissionais do futebol.
Se logo à frente os resultados virem a faltar, criticamos sem lembrar das nossas próprias palavras de pouco tempo atrás. Neste artigo analisamos a debandada dos gringos do futebo brasileiro: Adeus Gringos – Debandada de estrangeiros no Futebol Brasileiro
ROGÉRIO CENI E DOMENÈC SENTIRAM NA PELE A INCOERÊNCIA DOS BRASILEIROS
Lembram-se do alvoroço que foi a chegada do espanhol Domenèc Torrent? Não importava se o seu currículo era curto como treinador principal, mas sim, o fato de ser o auxiliar do Guardiola, já rendia horas de debates sobre as possibilidades no comando do Flamengo.
Com poucas semanas, e resultados instáveis, o treinador já era pressionado. Justa ou injustamente, a questão é que poucos foram os que defendiam uma continuidade para que ele pudesse se estabilizar. O resultado foi a demissão, e aclamação por Rogerio Ceni.
Ceni fazia um grande trabalho no Fortaleza. Sua evolução como treinador era notória, pelo resultado que entregava com pouco material humano. Elogios eram justos, mas bastou um início ruim no Flamengo, e hoje já se questiona sua liderança, seu padrão tático.
Tiago Nunes, no Corinthians, foi exatamente a mesma coisa. Campeão no Athletico, tinham horas de matérias sobre suas possibilidades no timão, e em poucas semanas, questionamentos e indução para a demissão, mesmo que indiretamente.
LONGEVIDADE NÃO RENDE AUDIÊNCIA
Dos times da primeira divisão do futebol brasileiro, apenas Renato Gaúcho (Grêmio) e Fernando Diniz (São Paulo) tinham mais de uma temporada no comando de suas equipes. Renato continua, Diniz não.
Renato Gaúcho se mostrou vencedor, conquistou Copa do Brasil, Libertadores e Recopa. Seu trabalho a longo prazo deu certo, mesmo que contestado em muitas das suas decisões no meio desse processo.
Fernando Diniz só continuou no cargo, porque a diretoria do São Paulo foi firme (muito firme). As eliminações da equipe em competições de playoffs, as oscilações de rendimento, tudo levaram a um bombardeio da imprensa, e o treinador esteve próximo de assinar sua demissão várias vezes.
Nos últimos meses, Diniz encontrou uma forma sólida de atuação, rendimento melhor, e virou a sensação do país. A imprensa estava em êxtase, até eleger aquele que tanto criticavam, como o melhor técnico do campeonato.
Agora o São Paulo voltou a ter instabilidade. Vários fatores contribuem, como seca de títulos, fator emocional pelas eliminações, etc. Diniz voltou a ser questionado, e acabou demitido como todos os outros.
No final das contas, falam de continuidade, mas não estimulam o que pregam. O que conta mesmo, é resultado, título. Se não tiver um bom início, qualquer um estará na linha de tiro.