Na última terça-feira, o Flamengo deu adeus à Copa Libertadores 2020. Em confronto diante do Racing, em pleno Maracanã, o rubro-negro foi eliminado nos Pênaltis, e entra em uma crise para o restante da temporada.
O GRANDE FAVORITO MORREU CEDO
No início da temporada 2020, absolutamente todos colocavam o Flamengo como o grande favorito a vencer todas as competições que disputava.
Defendendo o título da Copa Libertadores, o rubro-negro era o centro das atenções da competição. Não era para menos, pois quem ousaria duvidar de um time que atropelou a todos em 2019?
Em 2020, aquele Flamengo de 2019 apareceu esporadicamente. Podemos colocar como fator fundamental a saída de Jorge Jesus, e as frustrações com os treinadores subsequentes.
Mas a verdade é que nem com Jesus, o time foi aquele Flamengo, este ano. Na temporada, os cariocas não fizeram por merecer o status que carregavam antes do seu início.
Derrotas para equipes muito mais fracas, dificuldade de ser controlador do jogo como no ano anterior, além de goleadas marcantes. Derrotas para o Del Valle (5-0), Atlético-MG (4-0) e São Paulo (4-1 e 3-0), foram minando a confiança de um grupo fortíssimo.
O Flamengo deixou de provocar o medo no adversário, que agora passa a se sentir à vontade para jogar. Esse time deixou de ser arrasador, passou a ser permissivo, e hoje colhe os frutos da sua instabilidade.
É um time ainda muito bom, porém, só no papel. No campo, é um verdadeiro eletrocardiograma, dependente de individualidades.
O FLAMENGO MERECIA MELHOR SORTE DIANTE DO RACING?
Muitos comentaristas disseram após a partida, que a culpa da eliminação foi os erros ofensivos do Flamengo. Alegando uma enorme superioridade, e a falta de pontaria do ataque ser determinante para a queda.
Realmente, o Flamengo teve muito mais posse de bola (67%), finalizações (19×5), e chances reais de gol.
Mas particularmente, eu não vi todo esse merecimento do time rubro-negro na partida. Começou muito forte, chegou com força nos primeiros 15 minutos.
Após isso, foi controlando a bola, rondando a área dos argentinos, mas com pouca capacidade de infiltração na área. O Racing não foi acuado, foi estratégico!
Os argentinos buscavam um contra-ataque, que embora tenham tido espaços, poucas vezes conectaram uma jogada de qualidade. Mas defensivamente, o Flamengo pouco conseguiu desestabilizar as linhas bem postadas.
A expulsão de Rodrigo Caio foi o ponto fundamental da partida. Não somente pela desvantagem numérica, mas pela coincidência de logo após sair o gol do Racing.
Aliado a isso, as más escolhas de Ceni para recompor seu time. Tirando dois armadores (Arrascaeta e Everton Ribeiro), colocando o centroavante Pedro, mas sem alguém para fazer a bola chegar até ele.
Dependida da individualidade de Bruno Henrique, bolas cruzadas na área, e seja o que Deus quiser!
O volume ofensivo aumentou muito, e foi o segundo momento em que o Flamengo aumentou seu ritmo, e tentou de fato o gol. Embora sem jogadas ensaiadas, e coletivamente sem inspiração, buscou o empate salvador.
William Arão, em cobrança de escanteio, subiu mais que a zaga, e nos acréscimos deu uma sobrevida ao rubro-negro.
Quis o destino que o próprio Arão, o salvador da nação flamenguista, fosse o vilão a seguir. O volante errou o único pênalti do time brasileiro, e os argentinos, que foram perfeitos nas suas cobranças, avançaram de fase.
A CULPA É DE QUEM? CENI VAI PAGAR ESSA CONTA?
Em uma das falas de Rogério Ceni na entrevista coletiva após a eliminação, ele disse que naquela noite completava apenas 21 dias no comando do time.
Em 3 semanas, foi eliminado da Copa do Brasil, e agora, da Copa Libertadores. Neste período foram duas derrotas para o São Paulo na Copa do Brasil, dois empates e eliminação para o Racing, e uma vitória contra o Coritiba, pelo Brasileiro.
Não dá para colocar nas suas costas, o peso de uma temporada de instabilidade. Do jeito que as coisas andavam, essa bomba ia estourar mais cedo ou mais tarde, e quis o destino que fosse na sua mão.
Esse Flamengo não é apenas de Rogerio Ceni, mas também de Jesus (na sua fase menos vibrante) e de Domenèc.
Por outro lado, as escolhas do treinador, especificamente no jogo de terça-feira, merecem críticas, e uma cobrança interna forte.
É verdade que teve pouco tempo de treinamento, e que a herança de uma péssima postura defensiva, viesse de outro treinador. Mas nada justifica escolhas teimosas, e até certo ponto, incompreensíveis.
A insistência em Vitinho, que ficou o tempo inteiro no campo, em detrimento de dois jogadores de seleção brasileira e uruguaia. A pouca proteção aos seus zagueiros que vinham falhando constantemente.
Ceni deve continuar, é óbvio. Seria um absurdo (e amadorismo) se fosse demitido com 3 semanas de trabalho. Mas será pressionado daqui por diante, pois terá tempo de arrumar a bagunça que ele, e os demais, fizeram.
O QUE ESPERAR DO FLAMENGO PARA O RESTO DA TEMPORADA?
Eliminado de quase tudo, resta apenas o Brasileirão Série A. Como disse acima, agora o time e o treinador terão tempo. Enquanto muitos rivais da parte de cima ainda disputam competições paralelas, o Flamengo terá tempo de descanso, treinamento, e para recuperar lesionados.
O mínimo que se espera a partir de agora é maior organização, principalmente defensiva. Para a liga nacional, o Flamengo se torna um fortíssimo postulante ao título. Mesmo não tendo aquela mesma cara de campeão da temporada
anterior.
Vai disputar até o final, mas não vai ganhar com muitos corpos de vantagem. Ceni a partir de agora não tem mais desculpa. A torcida do Flamengo não tem muita paciência, e não vai lembrar das conquistas recentes para aliviar a barra de quem ficou.