O São Paulo entra na onda, e se entrega à tentação de contar com um profissional de fora do país. Será Hernán Crespo o próximo treinador a querer “revolucionar” o futebol brasileiro?
POR QUE O INTERESSE NO TÉCNICO ARGENTINO?
Convenhamos que atualmente, no futebol brasileiro, o fato der ser um profissional de fora do país, já lhe rende uma atenção especial. Nas últimas temporadas, para muitos analistas, este tem sido o segredo do sucesso, basta ver os últimos campeões de Copa Libertadores, e por quem eram dirigidos os times.
Hoje os dirigentes não enxergam com bons olhos o mercado interno, e talvez estejam certos. Estamos estagnados, com um ciclo vicioso, com as mesmas caras estampando os noticiários a todo momento, pulando de galho em galho, com trabalhos medíocres.
O São Paulo cansou de perder, e para isso, tenta mais uma vez um técnico sanguíneo, com ideia de jogo interessante, mas que vem com um grande título conquistado recentemente.
Hernán Crespo levou o Defensa y Justicia ao título da Copa Sul-Americana 2020/2021, o que para o tamanho do clube, e para a análise do trabalho do treinador, é sim uma conquista grandiosa.
Crespo vai ter no São Paulo, o que nenhum brasileiro teria: paciência de quem comanda. Qualquer brasileiro hoje já entraria com a pressão de buscar resultados a curto prazo, devido ao longo período de seca de títulos, e pelo clima de expectativa que se criou na reta final de 2020.
Assim como Eduardo Coudet, no Internacional, que chegou vindo de um título com o Racing, Crespo vai poder usar este artifício a seu favor. Chega em um clube cabisbaixo, necessitando de uma revolução, que para isso, teve de buscar uma novidade, para não sofrer com mais do mesmo.
Segundo notícias, o clube analisou (e conversou) com diversos profissionais, todos eles estrangeiros. Esse é um ponto importante da história do futebol brasileiro, pois cada vez mais, estamos vendo a invasão de profissionais de fora do país. Já discutimos a questão aqui: A invasão de técnicos estrangeiros no futebol brasileiro
Seja por moda, seja por convicção, quem for brasileiro e quiser continuar em alta no mercado, é bom se reinventar, e rápido.
CRESPO É O OPOSTO DE DINIZ?
O que muito se cobra dos dirigentes do futebol brasileiro, é que não tem qualquer coerência, sobre demissões e contratações, ou na busca linear de um padrão de jogo.
Poucos times no Brasil hoje possuem uma identidade, ou seja, uma característica de jogo, independente do treinador que ali esteja. O São Paulo teve diversos técnicos ao longo da última década, e cada um com um estilo diferente.
Seja marcador, reativo, dominante com posse de bola, transições rápidas, linhas altas, linhas baixas, etc. Não sabemos como o São Paulo se vê atualmente. Fernando Diniz, embora altos e baixos, tinha uma ideia de jogo, e não a abandonou, do primeiro ao último dia como treinador do São Paulo.
Esse modelo de construção com linhas de passe desde a saída de bola, jogo apoiado, e posse de bola como uma prioridade, pode dar espaço a um estilo de jogo bem diferente.
Há quem diga que Crespo pode se assemelhar a Diniz, com um são Paulo construtivo. Não foi o que mostrou no Defensa y Justicia. É bem verdade que com um elenco limitado, mas seu padrão de jogo é (muito) mais vertical do que o que vinha acontecendo no tricolor.
Posse de bola é bom, mas a objetividade de um jogo de transição cai no gosto do argentino. Sai aquela posse de bola passiva, entra um jogo de profundidade.
Tem recado do nosso novo técnico para vocês!
🗣 @Crespo:
“Estou muito orgulhoso por ser parte da família do São Paulo. Quero aproveitar para cumprimentar a torcida tricolor. Nos vemos em breve. Vamos, São Paulo!”.#CorazónTricolor 🇾🇪🇦🇷 pic.twitter.com/QGGHiGwolH
— São Paulo FC (@SaoPauloFC) February 13, 2021
COMPARAÇÕES
Se pudermos fazer uma breve comparação, seria um treinador mais voltado a um jogo de intensidade, como Coudet, que nem sempre tinha posse de bola, mas exigia progressão no campo.
Tem um lado mais parecido com o que apresenta Abel Ferreira no Palmeiras, com um jogo objetivo, e pouco menos de criação. Fernando Diniz preferia a posse, jogo com seus jogadores instalados no campo ofensivo, criação de zonas com superioridade numérica, porém, muitas vezes falhava nessa transição defensiva.
Crespo não chega a ser um treinador defensivo, que tem um padrão de linhas baixas e saídas em contra-ataque de forma esporádica. Não é um Fábio Carille, para quem lembra nos tempos de Corinthians.
Vai construir também, vai propor com linhas mais altas. Mas exige definição e intensidade sem a bola. Pode sim aproveitar a herança deixada por Fernando Diniz, mas quem diz que ambos se assemelham, eu posso dizer que discordo totalmente.
Pode dar certo, tem potencial para isso. Mas vemos mais um caso de um clube que está perdido, não sabe o que quer, como jogar, e vai mudando conforme a maré.